Entre 21:30h e 22h, ao sair da cidade com destino a Araçatuba-SP, enquanto me aproximava da pequena ponte que antecipa o trevo da rodovia, avistei ao longe (nem tão longe) as luzes de um caminhão que, num trecho nada iluminado da via, pareceu tremer, balançar estranhamente e, ainda que eu não quisesse crer, mudou seu trajeto e invadiu o lado da pista em que eu me encontrava. Por frações de segundo ainda me dei ao luxo de fixar os olhos na cena, mantendo aquele senso incrédulo, mas logo dei-me conta de que, realmente, sem dúvida alguma, o tal caminhão vinha de encontro ao meu pequeno carrinho popular 1.0 16v, compl., ar, dir., ótimo estado. Num ímpeto instintivo de sobrevivência, joguei o carro para a esquerda, portanto entrando na contramão dos que vinham atrás do caminhão. Logo, tive que escolher de novo, entre as colisões e o barranco.

Oras por que este chato não diz logo “acostamento”? Simples, porque a tal via de acesso não tem acostamento.
Continuando. Atrás do caminhão, também na grama, havia uma vaca morta. Não sou nenhum legista, mas ela estava bem estourada. Havia sido arrastada, deixando sangue e pêlos no asfalto. E dá-lhe foto. O condutor do caminhão correu até mim para me socorrer e constatamos juntos que, felizmente, ninguém havia se ferido. Muitos pararam para assistir o evento em que aquilo se transformara. Agradeço ao apoio oferecido e a preocupação dos amigos e familiares que ali me abraçaram.
Cálculo do milagre: e se não fosse o caminhão a arrastar a vaca? E se fosse o meu ou qualquer outro veículo menor a colidir com a vaca deitada? E se eu tivesse saído para o mesmo lado que o caminhão foi segundos depois? Especialmente naquele trecho, o asfalto fica à altura do topo das copas das árvores que se encontram no terreno ao lado mencionado da via, onde o caminhão também poderia ter encontrado um destino pior, se não fosse pela destreza de seu condutor. Naquele momento tão paradoxal, em que um acidente com uma potencialidade horrível não resultou em desgraças ou prejuízos significativos, eu já me encontrava tão grato a Deus, por estar vivo e inteiro, que não tive o reflexo de agradecer de pronto ao caminhoneiro por ter participado daquele momento, ainda que involuntariamente, da salvação da minha vida.
* Agradecimentos: Aos policiais que nos atenderam de pronto naquela noite, aos servidores da SP-RONDON (ambulância e guincho) à minha família e meus amigos, assim como a todos que alí pararam para prestar solidariedade. A Deus, por mais uma chance, e ao caminhoneiro, cujo nome não me lembro, mas que tem seu rosto gravado na minha memória, na pasta “Anjos”.
*Mancada: de quem atropelou a vaca antes do caminhão. Ôrra, custava avisar a polícia? ainda que mentindo, só pra avisar e evitar acidentes piores?